Exemplos de como algumas montadoras podem nos fazer chorar
Por Bruno Sponchiado
No mês passado, a Honda do Brasil lançou uma nova geração do City, um sedã de inegável sucesso no mercado brasileiro graças ao seu espaço generoso, mecânica confiável e linhas harmoniosas. Seu lançamento me lembrou a “Senhora dos absurdos”, um personagem do Paulo Gustavo que é uma socialite preconceituosa, racista e cheia – como o nome diz – dos absurdos. Mas como eu fui sair do insosso Honda City para a senhora dos absurdos? Pois, diferentemente do Paulo Gustavo, diversas marcas aqui no Brasil praticam absurdos sem a intenção de fazer rir. Muito pelo contrário.
Bonito, mas 70 mil reais com motor 1.5 não é um abuso?
Vamos analisar. O carro não é ruim, muito pelo contrário: bem construído, espaçoso e ficou muito bonito após a reestilização. Seu motor, um 1.5 16v, confere desempenho adequado para a proposta de veículo familiar sem grandes emoções. A versão básica, DX, vem apenas com o trivial: ar, direção e trio elétrico, além dos itens de segurança obrigatórios. Seu preço? R$ 54 mil. Com calotas. Sem alto-falantes traseiros. Sem opção de câmbio automático. A intermediária LX, tem o câmbio automático CVT, rodas de liga leve, banco traseiro bipartido com descanso de braço central e grade comada, por R$ 8 mil a mais. Aí temos a EX que acrescenta mais uns frufrus e a top EXL de incríveis R$ 70 mil: mais caro que um Civic LXS automático, maior em todos os sentidos, com motor 1.8 de 140 cavalos e mais equipamentos. Absurdo 1.
Preço de Audi, BMW e Mercedes em um carro simples
Preço de Audi, BMW e Mercedes em um carro simples
A Toyota também tem seus absurdos. Primeiro, o Etios mais caro, Platinum, por R$ 52 mil. Assim como o City, também não é um carro ruim. Tem seus predicados, mas é um carro pobre, simples, que não transmite qualquer emoção ou encantamento… Por R$ 52 mil. Preço do Fiesta Sedan 1.6, do Linea Essence 1.8 ou de uma Livina 1.8 automática, por exemplo. Absurdo 2.
Subindo de categoria, temos o líder Corolla. A versão mais vendida, XEi 2.0, custa R$ 82 mil. É caro, sim, mas nem tão absurdo quanto a top, Altis de absurdíssimos R$ 95 mil. Lembrando que nos EUA, um Corolla topo de linha custa 22 mil dólares, pouco menos de 50 mil reais, ainda que seja um pouco mais simples em alguns aspectos. R$ 95 mil seria o valor exato deste Corolla de R$ 50 mil acrescido de 35% de impostos de importação e, em seguida, de mais 40% de impostos aleatórios. Faça as contas. Você poderia comprar um Audi A3 Sedan 1.4 Turbo ou um Kia Optima, também 2.0, mas que pagou imposto de importação e IPI majorado. Também seria possível comprar um Ford Fusion 2.5, mas ele também não é santo por estar livre de uma certa carga tributária por ser mexicano. Absurdo 3.
Grande, velha e cara: eis a SW4 diesel
Continuando na Toyota, temos o maior absurdo, na minha humilde opinião: Hilux SW4 que, em sua versão mais cara (SR-V diesel), custa incríveis R$ 190 mil. Em um veículo lançado em 2005, com projeto mais antigo e motorização datada, com 171 cavalos, enquanto a concorrência já bate os 200 cavalos há algum tempo. Seu design já passou por dois tapinhas e hoje tem lanternas traseiras “xunadas” de fábrica, em um visual um tanto quanto tailandês. Ah, mas tem câmbio automático (velho, de 5 marchas; um TrailBlazer tem 6 e a Amarok tem de 8), tração nas 4 rodas (acionada manualmente por uma alavanca, no melhor estilo Lada Niva) e espaço para sete pessoas. Com mais R$ 10 mil é possível estacionar uma Grand Caravan na garagem, mais confortável, porém a gasolina. Precisa mesmo custar R$ 190 mil? Se você precisa de um carro grande, espaçoso, com tração nas 4 e diesel, por que não uma Trailblazer? Mais moderna, potente, equipada e com o troco você pode pegar um Etios Platinum (já que você deve gostar de Toyota). Absurdo 4.
Linhas harmoniosas, só que não
A dona Mitsubishi também pesa na mão na sua “Pajerinho”, um projeto do final dos anos 90 e que foi nacionalizado em 2002 – e que desde então só recebeu tapinhas. Custa pesados R$ 80 mil em sua versão mais cara, com tração nas 4 e câmbio automático de apenas quatro marchas, que faz um barulhinho de Kadett 1991, casado com o motor 2.0 flex, o mesmo de dez anos atrás, com míseros 135 cavalos (lembrando que a mesma produz um com 160 cavalos que equipa Lancer, Outlander e ASX). Espaço apertado, revisões caras, desenho “botocado” com faróis do Airtrek e ainda sim custando R$ 80 mil. Absurdo 5.
Pelo preço, se eu realmente precisar de um SUV 4x4, posso juntar um mês a mais e sair de Vitara. Ainda que seja um carro não tão moderno, nem se compara com a TR4. Por 5 mil reais a mais.
Já pensou em um Voyagezinho com 120 cavalos?
Já pensou em um Voyagezinho com 120 cavalos?
A Volks, que já vendeu Fox 1.0 por R$ 45 mil e Spacefox por 70, hoje tem uma versão “esportivo-luxuosa” do Voyage, a Evidence, com preço na casa dos R$ 56 mil. O motor? Bem que poderia ser o novo com cabeçote 16v e 120 cavalos, mas não: o mesmo de 104 cavalos nascido há mais de uma década. Não que seja ruim: o carro é gostoso de dirigir, bonito, mas com esse preço consigo achar um Fluence manual com motor 2.0, ar digital, mais espaço e incontáveis vantagens – como não ter as rodas do Gol Rallye, o que sempre é uma boa notícia…
Enfim, poderia ficar aqui horas enumerando os absurdos da nossa indústria automotiva, mas vale lembrar que a culpa não é só das montadoras, de suas matrizes ou dos fornecedores. A culpa também é nossa.
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